Maior parte dos partidos segue para as legislativas de liderança renovada. Próximas eleições terão poucos ‘repetentes’, mas que implicações isso terá? Cenários pós-eleições mudam? Fomos tentar perceber com analistas políticos.
Sai António Costa, entra Pedro Nuno Santos. O Partido Socialista (PS) tem novo secretário-geral e segue de ‘cara lavada’ para as legislativas do próximo dia 10 de março. Mas o antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação não é o único a estrear-se à frente de um partido nas urnas; vários outros dirigentes partidários vão medir pela primeira vez a força da sua liderança em eleições legislativas.
No leque de partidos com assento parlamentar, somam-se a Pedro Nuno Santos o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, o líder do PSD, Luís Montenegro, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, e o presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha.
Já o CDS-PP, que perdeu a representação parlamentar em 2022, apresenta-se a eleições com um novo líder, Nuno Melo, após a demissão de Francisco Rodrigues dos Santos.
“Lideranças significam alterações de discurso político”.
Ainda assim, na ótica do investigador do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa (ICS) António Costa Pinto, as mudanças de liderança “não têm igual peso em todos os partidos”.
É que alguns já tomaram as rédeas há cerca de dois anos, como é o caso de Luís Montenegro, que foi eleito líder do PSD após a demissão de Rui Rio na sequência da derrota do partido nas últimas legislativas. Já Mariana Mortágua, por exemplo, chegou ao cargo de coordenadora nacional do BE em maio deste ano, sucedendo a Catarina Martins. Pedro Nuno Santos, por sua vez, sobe a secretário-geral do PS a apenas a três meses das eleições.
“No caso do PSD, esta liderança já tem dois anos. No caso do Partido Socialista – talvez o caso mais importante -, a mudança de liderança foi decidida já no quadro da marcação de eleições antecipadas. Portanto, a primeira consequência é para o líder do PS, que tem uma herança do Governo anterior (e obviamente não tem qualquer impacto de duração da sua liderança). Para todos os outros, as mudanças de liderança já aconteceram há algum tempo”, sublinha António Costa Pinto, que indica que estas lideranças renovadas podem ser, nalguns casos, positivas e noutros negativas.
“Lideranças significam alterações de discurso político. E a liderança que conheceu maior alteração de discurso político com a mudança de líder foi a Iniciativa Liberal – o estilo político e o tipo de discurso foi diferente. O secretário-geral do PCP também tem o legado do antigo secretário-geral, que não é fácil, que era muito conhecido junto do eleitorado comunista”, exemplifica o politólogo.
A novidade que pode acontecer é poder haver o fim desta supremacia total dos dois principais partidos no espaço do hemiciclo”Já o analista político José Adelino Maltez acredita que o facto de haver uma panóplia de caras novas “vai ter influência nas decisões” e “na confiança pessoal”, mas frisa que “cada caso é um caso”.
Para o professor, as próximas legislativas podem significar o “fim desta supremacia total dos dois principais partidos no espaço do hemiciclo” e as mudanças deverão ocorrer “sobretudo à Direita”, consoante o peso que tiver o Chega na soma dos votos.
“Se o Chega tiver uma votação conforme algumas sondagens, era o fim do modelo da bipolarização dominante do PS e do PSD. Essa é uma das principais incógnitas”, nota.
Nos restantes casos, José Adelino Maltez defende que os novos protagonistas têm “importância relativa” já que, em alguns partidos, o “tipo de liderança” é, apesar de tudo, o mesmo.
Mas o “caso de Pedro Nuno Santos é diferente”, refere, “porque pode configurar uma nova escolha político-sociológica da parte do eleitorado”. “Não é necessariamente o antigo eleitorado do PS”, diz o politólogo.
O antigo ministro tem o desafio de levar os socialistas a eleições depois da demissão de António Costa na sequência de uma investigação judicial em que é visado e não se comprometeu com qualquer cenário pós-legislativas.
António Costa Pinto acredita que Pedro Nuno Santos “vai fazer uma campanha eleitoral mainstream Partido Socialista”, ou seja, defender que derrotar a Direita significa votar no PS “e fará ou não alianças conforme esses resultados eleitorais”.
“Se tiver uma maioria no Parlamento, tentará seguramente negociar alianças”.
O politólogo considera que “o mesmo irá acontecer no Partido Social Democrata – mesmo que diga que não”, ou seja, acredita que Luís Montenegro irá aliar-se ao Chega se necessário, apesar de o líder do PSD já ter recusado repetidamente essa possibilidade.
E mais à Esquerda?
Paulo Raimundo assumiu a liderança do PCP em novembro de 2022 e esta nova liderança do PCP “também é importante”, conforme apontam ambos os politólogos, António Costa Pinto e José Adelino Maltez, já que os portugueses estavam habituados à figura de Jerónimo de Sousa.
Mas os desafios que as próximas legislativas trazem para PCP e Bloco são distintos, sublinha António Costa Pinto.
“O PCP é um voto sociologicamente bem demarcado. O Bloco de Esquerda não tem nada de parecido com o PCP, o Bloco de Esquerda é um partido de saltos. Não é um partido que tenha tido sempre o mesmo tipo de eleitorado. Tem saltado e tem ocupado vários espaços. Não haverá grande novidade com esta liderança, já está habituado a estes solavancos”, refere o investigador.
Recorde-se que ambos os partidos tiveram uma derrota pesada em 2022. O Bloco ficou com cinco dos anteriores 19 deputados, enquanto o PCP ficou com seis dos anteriores 12. Ambos se propõem, agora, a reforçar a votação a 10 de março.
Quem se mantém?
O Chega é dos poucos partidos que deverá manter a liderança face às últimas legislativas. Embora tenha o seu sexto congresso marcado para janeiro, entre os dias 12 e 14, André Ventura é até agora o único candidato ao cargo de presidente.
Também o PAN e o Livre mantêm as lideranças face às últimas eleições, com Inês Sousa Real e Rui Tavares, ambos deputados únicos que se propõem a eleger grupos parlamentares em março.
As eleições antecipadas foram convocadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência da demissão do primeiro-ministro, António Costa, que pode sair de cena agora, mas já admitiu que não tem idade nem vontade de “meter os papéis para a reforma”.
Fonte: Notícias ao Minuto