Da “provocação armada” à declaração de estado de emergência, eis o que se sabe sobre a incursão ucraniana na região russa de Kursk.
A região de Kursk está a ser palco de uma das maiores incursões na Rússia desde o início da invasão da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022. Segundo autoridades locais, a operação conta com várias centenas de soldados de Kyiv e já provocou vítimas mortais, além de ter levado à retirada de milhares de residentes. Do início do ataque ao estado de emergência, eis o que se sabe até ao momento.
A incursão começou na manhã de terça-feira, segundo denunciou o Ministério da Defesa da Rússia, que no mesmo dia anunciou o envio de reforços para a região fronteiriça. De acordo com as autoridades russas, cerca de 300 “soldados inimigos” atacaram posições das unidades da guarda fronteiriça russa apoiados por 11 tanques e mais de 20 veículos blindados, pelas 8h00 locais (6h00 em Lisboa).
Antes, o Serviço Federal de Segurança (FSB) disse ter neutralizado uma tentativa de “provocação armada num troço da fronteira estatal no interior da região de Kursk”.
Durante a incursão com unidades mecanizadas, as Forças Armadas ucranianas terão feito prisioneiro um grupo de soldados russos no distrito de Sudzha. Na quarta-feira, o canal de análise militar DeepState relatou também a destruição de dois tanques russos Ka-52, um camião militar russo e um grupo de infantaria russa que estava numa ponte na área.
Face ao avanço do ataque, o governador regional em exercício, Alexei Smirnov, indicou que “vários milhares de pessoas abandonaram a zona de bombardeamento” e que as autoridades prepararam abrigos para 2.500 refugiados.
Smirnov disse ainda ter falado com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que lhe garantiu que a região iria “receber todo o apoio necessário”. Enquanto isso, o responsável instou os residentes locais a doarem sangue “devido à situação nas zonas fronteiriças”, numa altura em que, segundo o próprio, os militares russos tinham “resistido heroicamente aos ataques dos nazis ucranianos”.
Como resultado dos ataques, cinco civis morreram até ao momento e outros 31 ficaram feridos, segundo o Ministério da Saúde russo.
Por seu lado, também a Ucrânia ordenou a retirada de cerca de seis mil pessoas em zonas fronteiriças perto da região russa de Kursk. “A ordem que acabo de assinar prevê a evacuação obrigatória de 23 localidades. Isto envolverá cerca de seis mil pessoas, incluindo 425 crianças”, disse o governador de Sumy, Volodymyr Artioukh, num discurso transmitido na televisão.
Já na noite de quarta-feira, o governador de Kursk reconheceu que a “situação operacional continua a ser difícil nas zonas fronteiriças” e anunciou que decidiu decretar “estado de emergência” para “eliminar as consequências da entrada de forças inimigas”.
Esta manhã, o Ministério da Defesa russo anunciou que a “operação para destruir as formações do exército ucraniano continua” e garantiu “frustrar” as “tentativas” ucranianas de “penetrar profundamente” na região de Kursk.
Andrei Belostotsky, vice-governador de Kursk, em declarações a uma televisão russa, informou também que “os soldados continuam as suas ativas ações militares no distrito de Sudzha, tentando expulsar as tropas [ucranianas]”.
“Tenho a certeza de que isso acontecerá nos próximos dias”, declarou, garantindo que, nas últimas horas, “o inimigo não avançou nem um metro, pelo contrário, está a recuar”.
Putin fala em “provocação em grande escala” e EUA querem “saber mais sobre objetivos”
O presidente da Rússia convocou uma reunião de emergência com membros do Governo para abordar a situação em Kursk, que considerou tratar-se de uma “provocação em grande escala”.
“O regime de Kyiv empreendeu outra provocação em grande escala e está a disparar indiscriminadamente com vários tipos de armas, incluindo mísseis, contra edifícios civis”, disse Putin, citado pela agência de notícias russa TASS.
Também o ex-presidente da Rússia e atual vice-presidente do país, Dmitry Medvedev, reagiu à incursão ucraniana e defendeu que as forças russas devem “esmagar e destruir impiedosamente o inimigo”.
“É tirar uma lição importante do que aconteceu e cumprir o que o Chefe do Estado-Maior General, Valery Gerasimov, prometeu ao Comandante-em-Chefe Supremo: esmagar e destruir impiedosamente o inimigo”, afirmou na plataforma Telegram.
Por sua vez, a Casa Branca explicou que vai “contactar o exército ucraniano para saber mais sobre os objetivos” da incursão em território russo. Em conferência de imprensa, a porta-voz Karine Jean-Pierre assegurou, contudo, que Washington apoia as ações de “bom senso” tomadas pela Ucrânia para travar os ataques das forças russas.
Até ao momento, as autoridades de Kyiv ainda não confirmaram a autoria do ataque.