Guerra com Hamas mina laços com países árabes e complica integração

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A guerra aberta entre Israel e o Hamas, iniciada a 7 deste mês, está a minar a já complexa integração do país no Médio Oriente, comprometendo também o processo de normalização das relações diplomáticas com a Arábia Saudita.

Numa análise à atual situação na região, a agência noticiosa Europa Press lembra que, após a ofensiva contra Israel, perpetrada pelo Hamas, os bombardeamentos levados a cabo pelas forças israelitas levaram nove países árabes a condenar veementemente as violações do direito internacional e a apelar a um cessar-fogo imediato para pôr termo ao que consideram ser uma “violação dos direitos legítimos do povo palestiniano”.

Jordânia, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Omã, Qatar, Kuwait, Egito e Marrocos criticaram o “castigo coletivo” contra a população palestiniana e apelaram à “responsabilidade” de Israel enquanto “potência ocupante” e temem que as repercussões do conflito possam alastrar a outras partes do Médio Oriente, o que teria “graves consequências” para a segurança regional e internacional.

Dos nove países destacam-se os Emirados Árabes Unidos (EAU) e o Bahrein, que assinaram os Acordos de Abraão em 2020 — a que se juntaram mais tarde Marrocos e Sudão, embora Cartum não tenha ratificado os documentos — e que, juntamente com o Egito e Jordânia, mantêm relações diplomáticas com o governo israelita.

O pacto, “apadrinhado” pela então administração norte-americana do ex-Presidente Donald Trump, visava alcançar a paz na região, mas foi apenas uma manifestação da vontade de Washington se envolver diplomaticamente, deixando, porém, de lado questões como a situação nos Territórios Palestinianos Ocupados e aguardando-se a concretização da solução de dois Estados apoiada pela ONU.

Os acordos — que representaram a maior aproximação em décadas entre os dois blocos à medida que a posição em relação a Israel parecia evoluir — responderam assim aos interesses individuais destes países, embora todos parecessem coincidir na ideia de favorecer a situação de Israel em detrimento do Irão, um cenário do qual a Arábia Saudita poderia beneficiar, argumenta a EuropaPress.

O pacto, defende a EuropaPress, reflete o afastamento destes países em relação à causa palestiniana, uma vez que se concentram nas suas próprias prioridades e fraquezas internas. 

Para muitos, segundo a agência noticiosa, isto levou os países da região a abandonar a Iniciativa Árabe de Paz — promovida por Riade e aprovada pela Liga Árabe na cimeira de 2002 em Beirute –, que colocava a população palestiniana no centro dos esforços para resolver o conflito israelo-palestiniano.

A melhoria das relações com as autoridades israelitas levou estes países a afastarem-se um pouco das suas próprias posições históricas e, segundo os especialistas, pode ter contribuído para o planeamento de ataques por parte do Hamas.

Até então, a maioria dos países árabes defendia que o reconhecimento de Israel estava intimamente ligado à cessação da ocupação do território palestiniano e à concretização da já referida solução dos dois Estados, que prevê o estabelecimento de um Estado palestiniano nas fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como capital.

Muitas são já as vozes nos EUA que, “mais do que nunca”, reivindicam a importância dos Acordos de Abraão e apelam à Arábia Saudita para que não abandone o caminho da normalização definitiva das relações com Israel, numa altura de crescente tensão face à possibilidade de o conflito se estender a outros países da região.

No terceiro aniversário da assinatura dos acordos, em setembro último, a administração norte-americana apelou a “novos progressos” na integração do Médio Oriente para alcançar uma região mais “pacífica, segura e próspera”.

Mas os bombardeamentos israelitas provocaram protestos em toda a região e reforçaram os apelos ao apoio à causa palestiniana, mesmo entre os cidadãos sauditas e apesar da determinação do governo em reprimir qualquer indício de bloqueio dos planos do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman para o país.

Entre estes planos está a redução das tensões na região, uma questão que se materializou no restabelecimento das relações com o Irão, em março, apesar da rivalidade de longa data, e após o corte das relações diplomáticas em 2016, na sequência de um ataque às missões sauditas no Irão por manifestantes que protestavam contra a execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr.

A nível interno, a situação pode levar a alguma desestabilização, complicando os esforços para normalizar as relações com Israel, uma medida que, segundo o Irão, seria uma “punhalada nas costas” para os palestinianos. 

Apesar de os responsáveis israelitas falarem de uma normalização até 2024, Riade continua a defender como condição prévia a criação de um Estado palestiniano com Jerusalém Oriental como capital.

No entanto, realça-se na análise da EuropaPress, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apontou diretamente ao Hamas e falou de uma “intencionalidade clara” nos ataques do movimento islamita, que Washington e a União Europeia (UE) consideram “terrorista”.

“Uma das razões pelas quais agiram como agiram […] é porque sabiam que eu me ia sentar com os sauditas”, declarou Biden, sublinhando que se tratou de uma retaliação para impedir que Riade “reconhecesse Israel”, algo que “teria unido o Médio Oriente”.

No entanto, o ressurgimento do interesse saudita pela causa palestiniana poderá pressionar cada vez mais Israel a decidir que soluções políticas colocar em cima da mesa depois de terminada a guerra e poderá levar o país a fazer concessões para uma normalização frutuosa das relações com a Arábia Saudita.

Fonte: Notícias ao Minuto

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