Ministra destaca legado de Fausto e sua obra de resistência à ditadura

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A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, manifestou hoje “profundo pesar” pela morte do músico português Fausto Bordalo Dias, assinalando que a sua obra fica para sempre ligada à “oposição ao regime ditatorial português” e à “resistência contra o fascismo”.

“Fausto legou-nos uma das mais belas memórias de Abril, uma música sublime — ‘Por este rio acima/ Os barcos vão pintados/ De muitas pinturas'”, destacou a ministra.

Dalila Rodrigues lembrou que Fausto “foi um músico pioneiro e renovador, cujo legado artístico é reconhecido pela forma como cantou uma parte fundamental da História portuguesa”, tendo influenciado gerações de novos artisas.

Fausto Bordalo Dias, criador de “Por Este Rio Acima”, morreu hoje de madrugada aos 75 anos, em casa, em Lisboa, vítima de doença prolongada.

O músico viveu a infância e a adolescência em Angola, onde começou a interessar-se por música, assimilando os ritmos africanos que conjugaria com ritmos e modos da tradição popular portuguesa. O seu primeiro grupo, porém, integrava-se no movimento pop dos anos 60 e tinha por nome Os Rebeldes.

Fixou-se em Lisboa em 1968, quando entrou no antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atual ISCSP – Universidade de Lisboa, para se licenciar em Ciências Sócio-Políticas, a que mais tarde juntaria o mestrado em Relações Internacionais.

A adesão ao movimento associativo aproximou-o de compositores como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e, mais tarde, de José Mário Branco e Luís Cília, que já viviam no exílio.

“Pró que Der e Vier” (1974) e “Beco sem Saída” (1975) contam-se os seus dois trabalhos iniciais marcados pela experiência revolucionária.

A esses seguiram-se “Madrugada dos Trapeiros” (1977), que inclui a canção ecologista “Rosalinda”, “Histórias de Viajeiros” (1979), que abre já caminho a “Por Este Rio Acima” (1982), o seu grande sucesso, inspirado na obra “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto.

Com “Para Além das Cordilheiras” (1989) venceu o Prémio José Afonso.

“O Despertar dos Alquimistas”, “A Preto e Branco”, “Crónicas da Terra Ardente” são outros dos seus álbuns.

Em 2003 compôs “A Ópera Mágica do Cantor Maldito” (2003), uma perspetiva sobre a história portuguesa pós-25 de Abril.

Em 2009, com José Mário Branco e Sérgio Godinho, fez o espectáculo “Três Cantos”, sobre o repertório dos três músicos, dando posteriormente origem a um álbum com o mesmo nome.