Operação investiga alegado esquema criminoso, relacionado com a distribuição e venda da bilhética associada ao FC Porto, envolvendo funcionários do clube e de vários elementos que integram uma das suas claques. O MP suspeita de “conluio” entre funcionários dos ‘azuis e brancos’ e os Super Dragões.
FC Porto estava a apenas algumas horas de receber o ‘vizinho’ Boavista, este domingo, quando os ‘azuis e brancos’ vieram anunciar que a Porto Comercial, sociedade pertencente ao universo empresarial do clube, e a loja do Associado no Estádio do Dragão estavam a ser alvo de buscas por parte das autoridades. Estas diligências, que resultaram daquela que foi denominada Operação Bilhete Dourado, viriam a terminar com mais de uma dezena de arguidos e milhares de bilhetes e dinheiro apreendidos. Eis uma fita do tempo e o que está em causa.
Pouco depois de anunciadas as buscas, fonte da Polícia de Segurança Pública (PSP), força que conduziu as buscas, confirmou que as diligências estavam “relacionadas com a Operação Pretoriano“, que investiga os incidentes ocorridos na Assembleia Geral (AG) do FC Porto, em 13 de novembro de 2023. Foi também fonte desta força de segurança que acabou por confirmar que em causa estava, afinal, a Operação Bilhete Dourado, que teve origem em certidão extraída do inquérito que levou à operação Pretoriano, e que visou a execução de 14 mandados de busca domiciliária e quatro mandados de busca não domiciliária, nos concelhos do Porto, de Vila Nova de Gaia e de Matosinhos.
As diligências foram ordenadas pelas entidades competentes – Ministério Público (MP) e Juiz de Instrução Criminal – e foram executadas com o apoio operacional de várias valências da PSP, inclusivamente da sua Unidade Especial de Polícia (UEP).
Apreendidos quatro mil bilhetes e 44.510 euros
Ao fim da noite, fonte oficial da PSP confirmou à Lusa que a operação resultou na apreensão de quatro mil bilhetes de jogos de futebol do FC Porto, 44.510 euros em numerário, documentação relacionada com a venda ilegal dos ingresso e na constituição de 13 arguidos.
Foi também apreendida uma tocha, diversos equipamentos informáticos e telefónicos, várias máquinas fotográficas com conjuntos de objetivas e 323 cartões de sócio do Grupo Organizado de Adeptos Super Dragões.
MP suspeita de “conluio” entre funcionários do FC Porto e Super Dragões
Em causa está a suspeita de um esquema criminoso, relacionado com a distribuição e venda da bilhética associada ao FC Porto, envolvendo funcionários do clube e de vários elementos que integram uma das suas claques.
Segundo os mandados de busca e no inquérito a que a Lusa teve acesso, o MP suspeita de “conluio” entre funcionários ligados ao clube e uma empresa associada e membros dos Super Dragões na aquisição de bilhetes para jogos de futebol depois vendidos no ‘mercado negro’.
“De toda a prova reunida até ao momento e devidamente documentada não existem dúvidas de que são várias as pessoas com lucros consideráveis referente à venda irregular de bilhetes, o que lesa claramente o FC Porto, e o Estado, o que é ‘conhecido e aceite’ no seio do clube como moeda de troca pelo apoio da claque“, pode ler-se.
Segundo estes documentos, o MP partiu das suspeitas relacionadas com Fernando Madureira, líder da claque envolvida, e a esposa, Sandra Madureira, e agora ultrapassou a Operação Pretoriano.
Em causa estão crimes de distribuição e venda de títulos falsos ou irregulares/distribuição e venda irregular e também abuso de confiança qualificado, com buscas não domiciliárias aos administradores Rui Lousa, da Porto Comercial, e Alípio Jorge, responsável pelas casas do clube, entre outros.
A investigação revelou também como esta atividade “se reorganizou e adaptou à nova realidade após a Operação Pretoriano”, que levou à detenção do líder dos Super Dragões.
“A partir dos factos captados no inquérito, tornou-se ostensiva a existência de uma atividade ilícita altamente rentável em torno da chamada bilhética do FC Porto que envolve – ‘prima facie’ – funcionários e o grupo organizado de adeptos Super Dragões”, pode ler-se no inquérito.
Através da ligação a funcionários do clube, Fernando Madureira levantava os bilhetes destinados à claque mas também outros identificados como pertencentes a atletas, recursos humanos e outras designações, vendendo-os no ‘mercado negro’, quando estes são de acesso exclusivo de funcionários do clube.
As “estreitas ligações” de arguidos como ‘Aleixo’, Vitor Manuel Oliveira, a funcionários dos ‘dragões’ com vista a este esquema também são destacadas no inquérito, que aponta a Cátia Guedes, que lidera a operação de emissão de bilhetes, Fernando Saul, oficial de ligação aos adeptos, Márcia Fonseca, da Porto Comercial, Manuel António Magalhães, funcionário da bilheteira, e dois “elementos superiores”, José Pedro Dias e Rui Lousa.
A criação de ‘casas’ do FC Porto sem sede física, para obtenção de bilhetes, a revenda de convites e outros ingressos gratuitos são aqui descritos, assim como a continuação da operação ilícita após a detenção de Fernando Madureira.
Segundo o MP, a suspeita recai sobre a família MADUREIRA do líder da claque, no caso a filha mais velha Catarina Madureira e os avós desta, que prosseguiram a operação que, segundo se suspeita, envolve a conivência e “conluio” entre funcionários do clube e membros da claque.
A claque não esteve presente, pela primeira vez na história, na bancada do Estádio do Dragão. no passado fim de semana no jogo que opôs o Porto ao Boavista Os Super Dragões anunciaram a ausência da partida, justificando a mesma com a apreensão de bilhetes.
“Face às circunstâncias, não sendo possível apurar quais os bilhetes já entregues a grupos e/ou núcleos, foi solicitado ao Futebol Clube do Porto o estorno e cancelamento de todos os ingressos emitidos ao abrigo do referido Protocolo. Seguramente serão prestados os devidos esclarecimentos quanto ao procedimento a adoptar quanto à devolução dos ingressos já entregues e cancelados”, anunciaram em comunicado.
“Não podemos deixar de lamentar o sucedido, sendo a primeira vez na história que a bancada não estará preenchida. Estamos plenamente convictos que tudo será esclarecido em sede própria”, rematam.
O FC Porto acabou por vencer o Boavista por 2-0, naquela que foi a despedida do Dragão esta temporada. Assim, o FC Porto volta ao terceiro lugar para discutir a entrada direta na fase de grupos da Liga Europa (que ainda pode garantir se ganhar a Taça de Portugal). Têm mais um ponto que os bracarenses, sendo que vão visitá-los à Pedreira na última jornada. Já o Boavista continua à procura da permanência.