O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão considerou hoje “totalmente inaceitável” a morte de seis funcionários da ONU no ataque israelita de quarta-feira a uma escola na Faixa de Gaza que estava a ser utilizada como campo de deslocados.
“Os trabalhadores humanitários nunca devem ser vítimas de foguetes”, afirmou o ministério alemão na rede social X, acrescentando que o exército israelita “tem a responsabilidade de proteger o pessoal da ONU e os trabalhadores humanitários”.
Dois ataques aéreos de Israel à escola al-Jaouni, em Nuseirat, no centro de Gaza, que albergava deslocados, provocaram 18 mortos, entre eles seis funcionários da ONU, e 18 feridos. Num balanço anterior, o Governo de Gaza, controlado pelo Hamas, dava conta de 14 mortos.
A reação de Berlim surgiu poucas horas depois da do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, que também se afirmou “indignado” com a morte de seis funcionários das Nações Unidas.
“Estou indignado com a morte de seis trabalhadores da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente] depois de mísseis israelitas atingirem — pela quinta vez — uma escola em Nuseirat que estava a servir de abrigo para mais de 12.000 pessoas”, escreveu Josep Borrell na rede social X.
O Alto-Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança acrescentou que “não pode ser aceitável” o “desprezo pelos princípios básicos da lei humanitária internacional, especialmente a proteção de civis”.
“Este é o maior número de mortos entre o nosso pessoal num único incidente”, lamentou a UNRWA na rede social X, que até então tinha confirmado dois mortos.
Entre os mortos estão também o chefe do abrigo da UNRWA e outros membros da equipa que assiste cerca de 12.000 deslocados na escola de al-Jaouni, na sua maioria mulheres e crianças.
Já hoje, também o secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o ataque mortal como “inaceitável” e reiterou ainda na rede social X a urgência de “pôr termo agora a estas violações dramáticas do direito internacional humanitário”.
Na quarta-feira de manhã, o exército israelita confirmou em comunicado que tinha atacado um alegado centro de comando e controlo do Hamas instalado nesta escola de Nuseirat.
Segundo os dados da UNRWA, a escola Al Jaouni foi atacada cinco vezes desde o início da guerra de Gaza, em outubro, matando cerca de 40 pessoas. O último ataque ocorreu a 06 de julho, matando 16 palestinianos e ferindo outros 50.
“As escolas e outras infraestruturas civis devem ser protegidas em todas as circunstâncias, não são um alvo. Apelamos a todas as partes envolvidas no conflito para que nunca utilizem as escolas ou as áreas circundantes para fins militares ou de combate”, insistiu a UNRWA
“Recentemente, sob a direção do exército e da agência de informação interna Shin Bet [serviços secretos], a força aérea levou a cabo um ataque de precisão contra terroristas que operavam no interior de um centro de controlo do Hamas na zona de Nuseirat”, anunciou hoje à tarde o exército israelita, aludindo à escola.
Segundo os militares israelitas, a escola al-Jaouni, em Nuseirat, estava a ser utilizada por milicianos palestinianos como espaço para planear e executar “ataques terroristas contra as tropas” de Israel.
As forças armadas israelitas afirmaram ter tomado medidas para “mitigar o risco de ferir civis”, tais como a utilização de munições de precisão, vigilância aérea e outros métodos de informação, embora normalmente façam estas afirmações sempre que atacam locais protegidos pelo direito humanitário internacional, tais como escolas ou hospitais.
Especificamente, o governo de Gaza alegou que Israel bombardeou mais de 18 escolas ou abrigos no campo de refugiados de Nuseirat.
Os bombardeamentos ocorrem numa altura em que os principais hospitais do centro da Faixa de Gaza, al-Aqsa Martyrs e al-Awda, têm dificuldades em funcionar devido ao número crescente de vítimas que recebem e a fatores humanitários como a falta de eletricidade.
As forças armadas israelitas, por seu lado, insistem que é o Hamas que abusa sistematicamente das infraestruturas civis “em violação do direito internacional”.