A embaixadora da Palestina em Portugal qualificou hoje o comportamento dos Estados Unidos na ONU como desequilibrado, indicando que os norte-americanos tentaram impedir a entrada da delegação palestiniana na conferência das Nações Unidas marcada para hoje.
Rawan Sulaiman, que falava numa conferência de imprensa hoje realizada na embaixada da Palestina em Lisboa, na sequência do reconhecimento do seu Estado por Portugal, admitiu que os Estados Unidos têm um papel crucial na ONU, mas considerou que a intervenção daquele país não é a que esperava.
“O papel dos Estados Unidos nas Nações Unidas é importante. É crucial. Mas, infelizmente, não é equilibrado”, afirmou.
Para a diplomata, uma das provas desse desequilíbrio é o facto de as autoridades norte-americanas terem tentado impedir a delegação palestiniana de participar na Conferência para a Solução de Dois Estados (Israel e Palestina), marcada para hoje na sede da ONU, na qual vários países vão oficializar o reconhecimento do Estado palestiniano.
“Os Estados Unidos proibiram a delegação palestiniana de ir hoje a Nova Iorque discursar, incluindo o Presidente do Estado da Palestina. Isto precisa de ser alvo de uma reflexão”, defendeu.
A administração Trump revogou no final de agosto os vistos dos membros da delegação palestiniana, incluindo do Presidente, Mahmoud Abbas, que lhes permitia entrar nos Estados Unidos e participar na conferência da ONU.

Mahmoud Abbas é presidente da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), que governa parcialmente a Cisjordânia, território palestiniano que está, em grande parte sob controlo de Israel, e costuma participar das Assembleias Gerais da ONU.
De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, a ANP, assim como a entidade que a controla – a Organização para a Liberação da Palestina (OLP) — estão associadas ao terrorismo.
Mahmoud Abbas estará, no entanto, presente na conferência, já que, na sexta-feira, a ONU autorizou a sua participação na Assembleia Geral através de videoconferência.
Para a embaixadora palestiniana em Portugal, é indispensável que os Estados Unidos vejam os novos reconhecimentos do Estado da Palestina como “um alerta”.
“Se realmente acreditamos num horizonte pacífico ou político para acabar com esta situação horrível por causa da ocupação [de Israel], precisamos de ter uma posição equilibrada e precisamos de intervir de forma equilibrada”, avançou.
“O direito internacional não é um processo de escolha”, sublinhou Rawan Sulaiman, defendendo que “a seletividade é desumana”.
Portugal reconheceu oficialmente, no domingo, o Estado da Palestina, na sequência de um anúncio semelhante feito, poucas antes, pelo Reino Unido, Austrália e Canadá.
Durante a conferência das Nações Unidas, outros Estados e territórios vão reconhecer a Palestina, nomeadamente França, Bélgica, Luxemburgo, Malta, Andorra e São Marino.
Apesar de 75% dos 193 Estados-membros da ONU já reconhecerem o Estado palestiniano, a Palestina continuará a ter estatuto de observador nas Nações Unidos, não tendo direito a voto.
A plena adesão à ONU só poderá acontecer se o Conselho de Segurança da ONU o aprovar, o que implica que nenhum dos Estados com direito a veto – Reino Unido, Estados Unidos, França, Rússia e China — se pode opor.
Os Estados Unidos são um aliado tradicional de Israel que, no domingo, voltou a garantir que não haverá um Estado palestiniano.
Num vídeo dirigido aos líderes ocidentais, nomeadamente Reino Unido, Canadá e Austrália, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou estes países de oferecerem “uma enorme recompensa ao terrorismo” ao reconhecerem a Palestina como Estado.
“Isso não vai acontecer. Nenhum Estado palestiniano será criado a oeste do [rio] Jordão”, sublinhou.
Uma mensagem à qual a embaixadora palestiniana em Portugal também reagiu.
“Nós não desistimos”, garantiu, acrescentando que “os palestinianos nasceram para ficar na Palestina”.