Dezenas de pessoas foram detidas, no domingo, no Equador, durante uma tentativa de assalto a um hospital, novo episódio de violência neste país abalado pela guerra entre gangues.
polícia equatoriana anunciou a detenção de 68 suspeitos de pertencerem a uma organização criminosa que tentava apoderar-se de um hospital onde se encontrava um dos membros.
“Neutralizámos os suspeitos de terrorismo que tentavam apoderar-se de um hospital em Yaguachi”, na província de Guayas, no sudoeste do Equador, declarou a polícia
Os atacantes pretendiam “proteger um membro ferido da organização”, admitido no hospital ao início da manhã, indicou a mesma fonte.
A polícia apreendeu também armas de fogo e droga. Um “centro de reeducação” clandestino, onde “estavam escondidos” presumíveis membros da organização, foi igualmente alvo de buscas, adiantou.
As autoridades encerraram recentemente vários centros deste tipo, principalmente hospitais clandestinos geridos por gangues que, de acordo com as autoridades, não dispõem equipamento médico necessário para tratar doentes.
No domingo, cerca de 10 toneladas de droga foram também apreendidas perto de Vinces, na província ocidental de Los Rios, disse o exército
No mesmo dia, a Comunidade Andina das Nações (CAN), reunida em cimeira em Lima, debateu a situação no Equador, em luta contra a violência relacionada com o narcotráfico, e definiu um mecanismo de ajuda mútua para combater o crime organizado nas áreas de fronteira.
Bolívia, Colômbia, Equador e Peru anunciaram a criação da primeira “rede andina de segurança” contra o crime organizado, indicaram, em comunicado oficial.
Esta rede garantirá “um serviço 24 horas por dia, sete dias por semana, para fornecer e receber informações e/ou solicitar informações a outros países (…) sobre a atividade de grupos criminosos que têm, ou podem ter, operações transnacionais”, afirmaram os ministros dos Negócios Estrangeiros, do Interior e da Defesa da CAN.
“Fizemos história, escrevemos um novo capítulo na história da CAN”, disse a ministra dos Negócios Estrangeiros equatoriana, Gabriela Sommerfeld.
“O medo paralisa os países”, sublinhou Sommerfeld. “Vimos que o medo paralisou o Equador, paralisou o investimento, aumentou o desemprego e a migração”, acrescentou.
A proliferação e a expansão do tráfico de droga e dos gangues de extorsão no Equador colocaram as zonas fronteiriças em alerta máximo.
Considerado um país relativamente seguro, o Equador tem estado mergulhado na violência nos últimos cinco anos, num contexto de abrandamento económico e de empobrecimento na sequência da pandemia da covid-19, e com a taxa de homicídios a passar de seis para 46 por 100 mil habitantes, no ano passado.
Situado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores mundiais de cocaína, o Equador esteve durante anos ao abrigo da violência associada ao tráfico de droga.
Mas, de simples país de trânsito, passou a ser um centro de operações e de logística para o transporte de cocaína para a Europa. Cerca de 20 gangues estão a impor a lei, nomeadamente a partir das prisões.
Em 09 de janeiro, homens armados invadiram a televisão pública TC, fazendo reféns jornalistas e funcionários, ao vivo, antes de a polícia conseguir intervir, libertar os reféns e deter 13 assaltantes.
Oito dias mais tarde, César Suarez, o procurador encarregado de investigar este ataque, foi morto a tiro, em pleno dia, no centro de Guayaquil (sudoeste).
O Presidente do Equador, Daniel Noboa, decretou o estado de emergência e declarou o país “em guerra interna” contra os gangues, qualificados de “terroristas”, colocando no terreno mais de 20 mil efetivos.