Hans Reisch, de 60 anos, explicou que a nota que colocou na sua loja visa quem apoia a guerra de Israel na Faixa de Gaza, após ter tomado a decisão de deixar de receber clientes que possam estar do lado de Telavive. Autoridades alemãs removeram cartaz, mas dono não terá acatado.
Na vitrine de uma loja em Flensburg, no norte da Alemanha, está colocada uma nota, que está a gerar uma onda de indignação por todo o país.
Hans Velten Reisch, o proprietário de 60 anos, escreveu: “Judeus são proibidos aqui”.
“Não é nada pessoal. Nada de antissemitismo. Eu só não vos suporto”, acrescentou na nota.
O recado foi deixado na vitrine na quarta-feira, dia 17 de setembro, e ao fim do dia as autoridades já tinham sido alertadas para a situação.

Ao jornal Förde.news o porta-voz da polícia, Philipp Renoncourt, explicou que a nota foi retirada numa tentativa de “evitar o perigo” e uma escalada da situação, que poderia ameaçar a própria ordem pública da cidade.
Contudo, conta a imprensa local, Hans não acatou as ordens policiais.
Dizem os jornalistas que a nota já não está na vitrine, mas continua a ser visível numa parede diretamente à frente da porta de entrada da loja: mudou apenas de sítio.
Em entrevista ao Förde.news, Hans explicou que não é extremista e muito menos nazi.
“Um pouco à esquerda, um pouco à direita, mas não sou radical”, esclareceu, acrescentando que termos como ‘racismo’ são usados de forma demasiado leviana nos tempos que correm. “Hoje em dia, já se é nazi quando se pede um schnitzel [uma espécie de panado] cigano.”
Hans afirmou ainda que a nota que colocou na sua loja nada tem que ver com ódio aos judeus, mas sim contra quem apoia a guerra de Israel na Faixa de Gaza e, por isso, tomou a decisão de deixar de receber clientes que possam estar do lado de Telavive.
“Não preciso de pessoas assim aqui, nem na loja nem em privado”, confessou.
Hans mostrou também ser extremamente crítico da forma como a Alemanha e o Ocidente, no geral, estão a lidar com a guerra na Faixa de Gaza, acusando-os de “hipocrisia”.
Por isso mesmo, e por ver também que o grande apoio há Palestina, confessou que ficou surpreendido com a indignação que surgiu após colocar a nota.
“Nunca pensei que se fizesse tanto alarido por causa disto”, afirmou. “Não estou a incitar ao ódio, estou apenas a dizer o que penso.”
“Uma lembrança dos capítulos mais sombrios”
O problema é que na Alemanha, a discriminação contra judeus traz à memória tempos mais sombrios no país, onde ser da religião judaica implicava uma ida, muitas vezes sem volta, para um campo de concentração.
Nas redes sociais, o caso já ganhou novas proporções, com muitos utilizadores a condenarem a nota que consideram ser discriminatória, e outros a dizerem que se sentiram de novo na Alemanha nazi.
Os comentários mais extremistas exigiam saber qual era a loja em causa, apelando ao boicote e até mesmo a atos de vandalismo, nomeadamente incendiar o edifício. No dia seguinte à colocação da mensagem na vitrine, Hans encontrou a sua loja pintada com as palavras “Nazis fora”.
Na esfera política, as reações também não demoraram.
O presidente da câmara local, Fabian Geyer considerou que o incidente “é uma lembrança dos capítulos mais negros da história da Alemanha, e não tem absolutamente lugar algum nesta cidade”, acrescentando que, para si, a nota não era uma opinião, mas sim “uma declaração clara contra os judeus na nossa sociedade”.
Já o comissário para a Vida Judaica na Alemanha e Luta contra o Antissemitismo, em declarações à Welt TV, considerou que este é, de facto, um exemplo claro de ódio contra judeus e que é preciso intervir nestas situações: “Isto não pode ser tolerado de forma alguma”.
Segundo a polícia de Flensburg, houve, pelo menos, quatro queixas contra Hans, que estão, neste momento, sob a análise do Ministério Público alemão. Entre outros, está a ser considerado se ocorreu um crime de incitamento ao ódio.