Por mais de quatro horas, Martim Mayer, João Diogo Manteigas, Cristóvão Carvalho, Luís Filipe Vieira, João Noronha Lopes e Rui Costa debateram e bateram o recorde de debate mais longo em Portugal, que remonta a 1975.
Um debate que fica para a história. Pelo menos, no que diz respeito à sua duração. Martim Mayer, João Diogo Manteigas, Cristóvão Carvalho, Luís Filipe Vieira, João Noronha Lopes e Rui Costa protagonizaram, na noite de quinta-feira, o único e derradeiro debate a menos de 48 horas das eleições do Benfica e conseguiram mesmo ultrapassar a fasquia imposta por Álvaro Cunhal e Mário Soares em 1975.
Durante quatro horas e 10 minutos, os candidatos à presidência do Benfica trocaram acusações, ‘sacaram’ dos seus trunfos eleitorais, apontaram o dedo uns aos outros e sublinharam aquilo que já haviam dito nas incontáveis entrevistas que foram dadas ao longo das últimas semanas.
Antes disso, o debate mais longo da história de Portugal havia tido como protagonistas Álvaro Cunhal e Mário Soares. O então secretário-geral do Partido Comunista Português e o secretário-geral do Partido Socialista estiveram em plena discussão de ideias durante três horas e quarenta minutos, num debate moderado por Joaquim Letria e José Megre nos antigos estúdios da Rádio e Televisão Portuguesa (RTP) localizados no Lumiar, em Lisboa.
De resto, esse mesmo debate, em 1975, entre líderes partidários foi o primeiro a ser transmitido na televisão, tornando-se, desde então, prática comum sempre que o nosso país entra em período eleitoral.
Deste debate também surgiu a famosa frase “Olhe que não, olhe que não!”, proferida por Álvaro Cunhal, que contestava assim os argumentos do seu opositor político.

Cerca de 50 anos depois, as eleições do Benfica acabam por ‘roubar’ um registo inédito com um debate que se prolongou no tempo para lá do previsto. Inicialmente pensado para ter cinco horas, o esgrimar de argumentos entre os candidatos motivou a decisão da BTV – que abriu o sinal momentaneamente – de alongar a emissão.
Resta, por isso, tentar recapitular aquilo que foi dito por cada um deles, sendo que Noronha Lopes e Rui Costa acabaram por estar num patamar de maior destaque, também por conta dos ataques feitos pelos adversários.
Martim Mayer
“Falar com Mourinho, com Mário Branco e entender as lacunas do plantel e a procura de reforços, comigo também será assim em janeiro. Existe uma forma muito melhor de trabalho neste universo de treinador que são os sub-23, a equipa B e a equipa A. Jonker vem com vontade de falar com Mourinho sobre isso. Quer que os jogadores estejam mais em contacto. Já fez isso no Arsenal, com Wenger, no Barcelona, com Van Gaal. No Bayern também. Queremos ganhar sempre e ser campeões europeus, todos concordamos, mas a minha proposta é concreta. Jonker vem dar consistência ao futebol do Benfica. Em janeiro isto vai ter resultados. O que surge da conversa de alguém que só pensa no curto prazo com alguém que vem com um plano a 4 anos é sempre muito positivo. As contratações têm de ter uma lógica a médio prazo e a pensar no que se pretende para 4 anos. Há-de ser uma decisão tomada a quatro, de uma discussão construtiva entre estas pessoas. Com perspetiva a médio prazo haverá melhores decisões”.
João Diogo Manteigas
“Temos vindo a promover aquilo que é a nossa visão para recuperar a hegemonia em Portugal e o nosso modelo assenta em três grande vetores: maior eficiência nos plantéis – mais qualidade e menos quantidade; formação – ontem voltámos a estar em primeiro lugar na formação, é o que nós queremos; transação de jogadores – o Benfica vende bem, vende caro, mas os benfiquistas comemoram vitórias. Queremos acabar com o Benfica trading e apostar no mercado nacional, como foi o caso do Manu Silva. Os três modelos são os seguintes: mais qualidade, o Benfica tem de ter os melhores jogadores em Portugal; mais equilíbrio; e, terceiro, mais compromisso. Para terminar, relembrar sempre que ao Benfica não lhe compete ganhar um campeonato em quatro e uma Taça da Liga em quatro”.
Cristóvão Carvalho
“Rui Costa, o João Neves é uma pedra no teu sapato. Só entenderia a venda pela cláusula de rescisão. Estamos todos tristes. João Noronha Lopes disse que não defendia números. Nem aqui nem em coisa nenhuma. Ninguém te pode exigir nada como presidente porque não te comprometes com nada. Não me leves a mal, mas exigia-se mais da tua parte. Gostava de ter um compromisso com títulos e jogadores a subir. Continuas na nuvem de D. Sebastião e não te comprometes com nada”.
Luís Filipe Vieira
“Só tenho de dizer uma coisa ao Rui. A subida da dívida não tem nada a ver com a Covid-19 e graças aos quadros que o Benfica tinha pagou a toda a gente e pagou empréstimos obrigacionistas porque vendemos o João Félix também. O passivo não aumentou aí. Na realidade, colocaram o dinheiro em coisas más, eu sei o que estou a dizer, não te estou a atacar… Oh Rui, Rui… Ouve o que estou a dizer… A Adidas e a Emirates mandaram cartas a dizer que não podiam pagar e nós fomos os únicos que aguentámos”.
João Noronha Lopes
“Quero muito ganhar, o José Mourinho quer muito ganhar e a estrutura que apresentei vai ajudá-lo a ser mais vencedora. Há que criar condições. Depois de investir 130 milhões é de estranhar que o plantel apresente estas lacunas. No futebol todos cometemos erros, mas temos de aprender. Se os voltamos a cometer, é natural que os resultados não apareçam. Temos de trabalhar com antecipação e de forma inteligente, chegar mais cedo aos mercados, apostar na formação para meter os jogadores a jogar. Formação para vencer e não vender. Vi o candidato Rui Costa dizer que para perder, que seja assim, porque quase ganhámos. Fico surpreendido, parece que o candidato Rui Costa critica o presidente Rui Costa, tal como o presidente Rui Costa criticou o vice-presidente Rui Costa. Quantos Costas há na direção do Benfica?”
Rui Costa
“Este trajeto, esta gestão do futebol não pensa no imediato e hoje temos esta estrutura e apenas seis jogadores com mais de 25 anos por isso. Antes o Benfica tinha uma equipa mais velha, 13 jogadores na casa dos 30 anos. Isso sim é para o imediato. Pensamos a longo prazo. Quanto à formação, temos de abrir espaço à utilização. Não podemos querer ser treinadores do Benfica. O nosso papel é abrir espaço, foi dito sempre que no projeto entram 20 jogadores contratados e todos os outros são da formação. Ainda aparecerão em momentos mais saudáveis do Benfica. Nas principais ligas, a média de utilização é de 13%, no Benfica é de 20% [da formação]. Não está assim tão carente na formação. A Noronha Lopes, o Rui Costa nunca festejou nada para lá de títulos. Não há vitórias morais, queremos jogar sempre até ao fim. O ano passado lutámos por todos os títulos. A estrutura é grande e promete uma estrutura profissional com pessoas que nunca ocuparam esse cargo. Mário Branco tem uma vida, gosto muito das pessoas, mas nenhuma teve o cargo que está a sugerir”.
A missão de encontrar um vencedor em debates é sempre uma tarefa complicada, mas os sócios do Benfica terão a palavra já amanhã, sábado.
